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Lula lança chapa e fala em por fim a “ameaças” a outros poderes

Ex-presidente fez discurso se colocando como opção ao autoritarismo, que associou a Jair Bolsonaro

Lula lança chapa e fala em por fim a “ameaças” a outros poderes
Poder360
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou neste sábado (7.mai.2022) sua pré-candidatura à Presidência da República em um ato político realizado em São Paulo com a presença dos demais partidos que compõem a coligação, movimentos sindicais, artistas, intelectuais e militantes.

Em um discurso de 47 minutos, em que elencou as principais ações de sua gestão, afirmou que o país “decidirá livremente no momento em que a lei determina, quem deve governar“.

É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos da sua competência, sem exorbitar, extrapolar, nem interferir nas atribuições alheias. Chega de ameaças! Chega de suspeições absurdas! Chega de chantagens verbais! Chegas de tensões artificiais. O país precisa de calma e tranquilidade para trabalhar e vencer as dificuldades atuais“, afirmou no discurso (leia aqui a íntegra do discurso).

O ex-presidente fez um discurso se colocando como alternativa ao autoritarismo, que associou a Jair Bolsonaro (PL) o atual chefe do Executivo. “Queremos voltar para que ninguém nunca mais ouse desafiar a democracia. E para que o fascismo seja devolvido ao esgoto da história, de onde jamais deveria ter saído“, disse.

A oposição entre democracia e autoritarismo apareceu durante diversos momentos do discurso. Em um deles, lançou mão de comparações com o governo atual.

O Brasil da democracia ou do autoritarismo? Da verdade ou das 7 mentiras contadas por dia? Do conhecimento e da tolerância ou do obscurantismo e da violência? Da educação e da cultura ou dos revólveres e dos fuzis? Um país que fortaleça e incentive a sua indústria ou assista parado à sua destruição? O exportador de bens de valor agregado ou o eterno exportador de matéria-prima? O país do Estado de Bem Estar Social ou do Estado Mínimo, que nega o mínimo à maioria da população? O país que defende o seu meio ambiente, ou o que abre a porteira e deixa passar a boiada? “, afirmou.

No fim, concluiu dizendo que “nunca foi tão fácil escolher. Nunca foi tão necessário fazer a escolha certa“. A frase é uma referência a editorial intitulado “Uma escolha muito difícil“, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 8 de outubro de 2018. O texto opinativo do jornal se referia à disputa em 2º turno pela Presidência a ser travada naquele momento por Jair Bolsonaro e pelo ex-ministro da educação Fernando Haddad (PT-SP).

Lula falou no lançamento da chapa presidencial que encabeçará nas eleições deste ano. O vice será Geraldo Alckmin (PSB).

O ex-presidente destacou a lealdade de Alckmin.”Tive em Alckmin um adversário leal. E estou feliz por tê-lo na condição de aliado, um companheiro cuja lealdade sei que jamais faltará – nem a mim, e muito menos a vocês e ao Brasil“.

Alckmin não compareceu ao evento por ter sido diagnosticado com covid-19. Em discurso transmitido antes da fala de Lula, o ex-governador deu ênfase à lealdade. “Até o final dessa missão vamos estar juntos. Apoiando e defendendo o seu governo. Até que o seu trabalho esteja completamente realizado. Serei um parceiro leal“, afirmou.

Há na militância petista o temor de que se repita o que aconteceu com Michel Temer. Temer foi vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff , travou disputas com a petista e de distanciou durante o processo de impeachment, assumindo a Presidência.

O ex-presidente improvisou muito pouco e leu praticamente na íntegra o discurso preparado antes do evento. O que foi comemorado por petistas. O time que cuida da estratégia da campanha tem insistido para que Lula evite improvisar muito. A ideia é evitar deslizes que estão viralizando nas redes sociais, como o da fala em que disse que Bolsonaro “não gosta de gente, gosta de policial“.

Lula também trouxe para o discurso temas poucos comuns às campanhas petistas, como o empreendedorismo, pauta cara a Alckmin. “Precisamos criar um ambiente fértil ao empreendedorismo, para que possam florescer o talento e a criatividade do povo brasileiro. Este país precisa voltar a criar oportunidades, para que as pessoas possam viver bem, melhorar de vida e tornar seus sonhos realidade“, disse.

A ampliação das pautas tem o objetivo de marcar o fato de que a partir de agora o ex-presidente fala em nome de todos os partidos, e não apenas do PT. A equipe de estratégia de campanha tenta fazer com que Lula continue sem se desviar muito dos discursos já preparados para os eventos.

O PT e os aliados de Lula evitaram chamar o ato de lançamento de chapa, apesar de o efeito político ser esse. Temem que a Justiça Eleitoral entenda o movimento como propaganda política antecipada e imponha penalidades a Lula. 

O nome oficial do evento foi “Movimento Vamos Juntos pelo Brasil”, realizado no Expo Center Norte, em São Paulo.

A chapa Lula/Alckmin já tem o apoio de 5 partidos, além do PT e do PSB. Solidariedade, Psol, PC do B, PV e Rede Sustentabilidade também estão na aliança.

Petistas tentam aglutinar também PSD, que rejeita apoiar Lula no 1º turno, e MDB, que tem Simone Tebet (MS) como pré-candidata a presidente.

Há alas pró-Lula e pró-Jair Bolsonaro nos 2 partidos. Os dirigentes das legendas não querem apoiar nenhum deles porque isso poderia rachar as siglas.

Lula tem dito que não quer ser candidato de si mesmo ou só do PT. Quer criar um movimento em torno de si.

Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para o Planalto. O presidente Jair Bolsonaro (PL), porém, vem reduzindo a diferença.

HISTÓRICO LULA-ALCKMIN

Lula e Geraldo Alckmin foram adversários políticos por anos. O ex-governador de São Paulo era um dos principais quadros do PSDB, partido que polarizou a política brasileira com o PT de 1994 a 2018.

Em 2006, os 2 políticos disputaram a Presidência da República. Lula, que tentava a reeleição, foi alvo de ataques do então tucano –e bateu de volta em diversos momentos.

Em 2018, Alckmin foi candidato a presidente novamente. Mesmo preso, Lula aparecia de forma negativa na propaganda de TV do ex-governador.

O então tucano teve a pior votação da história do PSDB em eleições presidenciais. Perdeu espaço para João Doria, que se elegeu governador de São Paulo e se tornou o principal nome tucano.

Alckmin pretendia ser candidato a governador em 2022. Doria, porém, filiou seu vice, Rodrigo Garcia, para lançá-lo ao cargo. O movimento liquidou as chances de Alckmin se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes pelo partido.

Ao mesmo tempo, começavam as conversas para o ex-governador ser vice na chapa em que Lula disputará o Palácio do Planalto.

Os principais articuladores do movimento foram o ex-governador Márcio França (PSB), amigo de Alckmin, e o ex-ministro Fernando Haddad (PT), próximo de Lula.

O ex-governador anunciou sua saída do PSDB em 15 de dezembro de 2021, confirmando as especulações de que deixaria o partido ao qual fora filiado por 33 anos.

Ele se filiou ao PSB em 23 de março deste ano, abrindo caminho para a aliança com Lula. Em 8 de abril, seu novo partido o indicou formalmente para ser vice na chapa.

O VICE DE LULA

Mesmo com o empresário José Alencar (1931-2011), o cargo de vice sempre se encaixava no perfil do PT. Alencar, vice de Lula de 2003 a 2010, era um empresário bem sucedido, mas não era alguém de expressão nacional.

Alckmin é um cristão fervoroso, defensor de Estado reduzido e já foi candidato a presidente duas vezes, representante legítimo do eleitorado paulista mais de direita.

A chapa Lula-Alckmin é, de maneira indireta, o mais próximo da realização de um sonho dos intelectuais paulistas que criaram o PSDB em 1988, mas que no início dos anos 1980 tentaram uma aliança com os sindicalistas representados por Lula.

Queriam construir um partido social-democrata nos moldes dos que governaram vários países europeus e criaram o Estado de bem-estar social naquele continente.

Houve uma associação entre intelectuais e sindicatos, que serviu de base para mandatários como Felipe González, 1º ministro da Espanha de 1986 a 1992, e François Mitterrand, presidente francês de 1981 a 1995.

Uma grande reunião foi realizada no colégio Sion, em São Paulo, em 10 de fevereiro de 1980, que marcou a fundação do PT. Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso estiveram juntos em diversos encontros para formar um novo partido.

Apesar da boa vontade de ambos, não houve acordo. Os intelectuais paulistas ficaram no MDB até 1988, quando fundaram o PSDB. E os sindicalistas permaneceram no PT.

Houve nova tentativa de aproximação, dessa vez coordenada pelo ex-governador paulista Mario Covas, em 1994. A ideia era ter uma chapa PSDB-PT para as eleições daquele ano.

Novamente, não houve acordo. Fernando Henrique, com a popularidade ampliada pelo sucesso do Plano Real (ele foi o ministro da Fazenda que implantou a nova moeda), ganhou no 1º turno.

Alckmin, naquele ano, foi candidato a vice de Mario Covas ao governo de São Paulo. Com perfil discreto e à direita da ala majoritária do PSDB, ele acalmou as elites conservadoras, sobretudo do interior paulista. É nessa região que ele ainda mantém a sua maior aderência.

Eleito vice em 94, foi reeleito em 98. Em 2001, assumiu o governo depois da morte de Covas em decorrência de um câncer.

Agora, em parceria com Lula, tem a função de afastar a imagem de extremistas que adversários tentam colar no petista. Sua escolha para vice foi o movimento mais à direita do PT em toda sua história.

Há setores petistas descontentes com a presença de Alckmin na chapa. O ex-presidente, porém, é de longe a pessoa mais influente do partido. A probabilidade de a sigla barrar a aliança na convenção, em junho, é pequena.

FONTE/CRÉDITOS: Poder360
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