Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o comércio sofreu uma queda recorde de ocupação (-4% ou 404,1 mil) e de número de empresas (-7,4% ou 106,6 mil) em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, em relação a 2019.
Mesmo assim, o setor registrou um aumento de 195,5 mil trabalhadores em dez anos, com 9,78 milhões de funcionários, único ano além de 2011, o início da década, em que o número ficou abaixo dos 10 milhões.
No primeiro ano de impactos da Covid-19, 90,4% dos cortes ocorreram no comércio varejista, com 365,4 mil pessoas, maior queda da série histórica iniciada em 2007 para o segmento.
“Essa queda do emprego pode ter sido influenciada justamente pelo segmento que mais sofreu com o isolamento social, que foi o varejo. A experiência de compra é diferente nesse tipo de segmento, em que você precisa ir à loja e experimentar o produto. Isso pode ter levado ao fechamento dessas empresas”, avalia Synthia Santana, gerente de Análise Estrutural do IBGE.
Perdas também foram registradas no comércio de veículos, peças e motocicletas (-76,6 mil). Apenas o atacado teve saldo positivo em 2020, no comparativo com 2019, com 37,9 mil contratações a mais. Já o rendimento médio mensal passou de 1,9 salário mínimo para 1,8, em um ano.
Entre as atividades do comércio varejista, principal afetado pelo novo coronavírus, as vendas de tecidos, vestuário, calçados e armarinho foram as mais impactadas, com o corte de 176,6 mil trabalhadores, 15% a menos do que em 2019.
Das nove atividades pesquisadas, apenas hipermercados e supermercados, além de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos tiveram aumento, ambas consideradas essenciais na pandemia, tiveram aumento discreto nas vagas: 1,8 mil e 318, respectivamente, no comparativo com o ano anterior.
“Esse resultado provavelmente leva em consideração a venda de máscaras, álcool em gel, todos esses produtos que foram importantes na pandemia”, apontou Synthia Santana.
Em relação à década de 2011 a 2020, os maiores aumentos no emprego se deram nas atividades de hipermercados e supermercados (+396,9 mil); produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos (+145,6 mil); e combustíveis e lubrificantes (+93 mil).
Já as maiores reduções em dez anos vieram das atividades de tecidos, vestuário, calçados e armarinho (-306,4 mil); informática, comunicação e artigos de uso domésticos (-87,5 mil); e veículos automotores (-73,7 mil).
Perfil do faturamento
O IBGE aponta que, em 2020, 1,3 milhão de empresas do comércio geraram R$ 4,3 trilhões em receita operacional líquida (dinheiro da venda de produtos e prestação de serviços), sendo R$ 2,3 trilhões do atacado, R$ 2,1 trilhões do varejo e R$ 394,3 bilhões do segmento de veículos, peças e motocicletas.
Na década entre 2011 e 2020, o segmento de comércio por atacado de matérias-primas agrícolas e animais vivos teve maior variação de receita operacional líquida, de 3,1 p.p., passando de 2,8% para 5,9% de representação do total. Em segundo lugar estão hipermercados e supermercados (3 p.p.), que foram de 10,6% para 13,6%; e comércio por atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (1 p.p.), de 7,5% para 8,5%.
Na contramão, as principais quedas vieram do comércio de veículos automotores (5,5 p.p.), de 10,6% para 5,1%; comércio varejista de tecidos, vestuário, calçados e armarinho (1,8 p.p.), de 4,4% para 2,6%; e comércio por atacado de combustíveis e lubrificantes (1,1 p.p.), de 11,2% para 10,1%.
“Uma mudança estrutural importante no comércio foi a progressiva perda de representatividade do setor automotivo. A atividade de comércio de veículos automotores, que em 2011 chegou a dividir o segundo lugar no ranking com o setor de hipermercados e supermercados, perdeu 5,5 p.p. de participação e alcançou 5,1% da receita operacional líquida, caindo para a oitava posição em 2020. Este resultado pode refletir, em parte, uma mudança no comportamento dos indivíduos com relação à aquisição de automóveis, mudanças nos preços relativos e os efeitos de crises econômicas no período”, descreve a pesquisa.
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